Eu não quero voltar
Olá, olá.
É o último dia de julho e a próxima semana será um marco importante na minha recuperação. Eu vou escrever sobre isso mais tarde (o que significa que não hoje), mas também quero compartilhar outras coisas que estão acontecendo. Se parar e pensar, não são muitas coisas, mas por alguma razão parece que é um monte se acumulando e eu tenho que encontrar uma forma de equilibrar tudo nas mãos.
![]() |
Cabeça De Coração é o meu nome |
Mas não estou reclamando. Eu mudei, evoluí, virei em uma pessoa diferente. Ou, ainda, não uma pessoa diferente, mas uma versão polida da pessoa que já era. É difícil acreditar que, há dois anos, eu estava começando o tratamento com o resto da equipe (já estava em tratamento psiquiátrico desde maio), e agora as coisas estão assim. Assim. Não parece verdade. Quando estou me sentindo bem, dá até para duvidar um pouco. Mesmo quando estou sentada sem sentir nada em particular, fico grata por não estar muito incomodada com isso. É desconfortável, mas não me mata como antes. Eu posso lidar com isso agora.
Eu não achei que fosse possível. Realmente. Fui eu a procurar tratamento, fui eu quem disse "Chega, vou morrer se as coisas continuarem assim, e eu estou com medo". Mas nunca acreditei que era possível mudar as coisas, até o começo deste ano, depois que a temporada de férias terminou e eu, por algum motivo, decidi mergulhar minha cabeça na recuperação como nunca antes.
Não é como se eu não estivesse tentando antes. Eu estava. Mas você vai na ponta dos pés no começo. Então tem uma recaída. Tenta mergulhar até os tornozelos. Então, recai. Então mergulha de joelhos. E assim por diante. A hora da cabeça veio este ano. E, bem, funcionou. Eles são bons nisso. Conhecem o timing muito melhor que eu. Eles são muito bons. Eu mal posso acreditar.
A nutricionista recentemente disse que eu poderia parar de tomar o suplemento de bebida. Eu fiquei chocada e aliviada. Não achei que esse dia chegaria. Fazia tantos meses que eu já previa uma vida em que teria que lidar com aquele gosto horrível todos os dias, para sempre. Eu me senti tão orgulhosa. Isso é simples: não tomar um suplemento vitamínico. Mas foram meses. Eu nem lembro de quantos. Um ano? Talvez. Não lembro. Mas lembro do dia em que me disseram que estava demorando demais para parar, tempo demais para repor as vitaminas. Me senti assustada e humilhada: estava tentando, mas o que estava fazendo de errado? Agora estou livre disso. Sem mais pó de cor feia e difícil de dissolver.
Meu peso está saudável e estável. Meu corpo está mantendo. Eu tive dias ruins, mesmo uma semana ruim, mas meu corpo lutou até que eu pudesse lutar também. Sinceramente, não gosto de como certas coisas parecem - especialmente minha barriga, quase o tempo todo, e minhas coxas, se eu olhar para elas - mas é isso. Não me incomoda o suficiente para me fazer querer fazer coisas ruins. Sabe porquê? Porque eu cérebro está funcionando melhor agora, e isso me deu a chance de ter algo mais importante do que o meu corpo para se preocupar:
Fui aceita na universidade para estudar psicologia. É ridículo. Ridículo! Eu, estudando, faculdade presencial! Ridículo. Surreal. Mas lá vou eu, um dia depois do meu aniversário. Tenho sonhado com isso todos os dias. É um sonho tornado realidade. Fui ao campus com meu pai umas vezes, inclusive no dia em que fiz o exame, e não senti que estava prestes a morrer. Claro, estava com meu pai e o prédio estava quase vazio. Quando tive que ficar em uma fila, estava tremendo. Mas fora isso, estava bem e sobrevivi com um sorriso.
Já faz quase 10 anos desde que fui abusada. Quase 10 anos desde que abandonei a escola pela primeira vez e o medo de ser atacada por algum colega me consumiu. Consegue imaginar? E agora estou finalmente seguindo em frente. É insano. Dentro de três semanas, celebrarei meu aniversário de 24 anos. Eu me sinto velha e fora do lugar. Ainda acho que há muito sobre mim que se choca com outras pessoas, muito que constrói um muro entre mim e elas. É difícil abandonar as inseguranças e simplesmente fazer as coisas. Mas estou dando os passos que posso e é o que vou continuar fazendo, porque eu não quero voltar para lá.
Comentários
Postar um comentário