Esconder comida como um sintoma de transtornos alimentares

Alguns sintomas de transtornos alimentares, especialmente anorexia nervosa, resultam da experiência de fome extrema. Estes sintomas funcionam como estratégias de sobrevivência, uma forma de o cérebro responder ao perigo de morte. Comer rapidamente em pouco tempo, recusa ou irritação quando forçado a compartilhar a comida com outros ou ter episódios de compulsão alimentar ao ponto de vomitar (sem forçar) são alguns deles. No entanto, um dos sintomas menos explicados é roubar e esconder comida.

Quando eu estava mais doente, entre janeiro e abril do ano passado, desenvolvi esse hábito. Começou mais cedo, no entanto, através da separação da comida que eu iria comer da comida que o resto da minha família comeria. Eu colocava minha comida em uma porta diferente do armário da cozinha e ficava extremamente irritada se alguém comesse alguma coisa de lá, além de usar isso como uma desculpa para não comer nada como substituição. A única comida que eu tinha "permissão" para comer foi a comida que havia separado, independentemente da situação.

Gradualmente, como as pessoas não pareciam respeitar a separação e eu repetidamente não tinha nada que fosse "seguro" para comer, comecei "roubar" a comida e escondê-la em uma gaveta no meu quarto. O que roubava eram coisas que muitas pessoas não imaginariam ver uma anoréxica comer: biscoitos e pequenos doces. Eu mantive muitos pacotes de biscoitos na minha gaveta. No entanto, novamente, ao contrário do que deveria fazer nessa situação, eu não comia. Em vez disso, abria e fechava a gaveta várias vezes em um dia, olhando para a comida e contando quantos pacotes estavam lá, parcialmente para me distrair, em parte para saber se alguém tinha encontrado minha gaveta secreta de comida.

Da mesma forma, havia momentos em que eu estava constantemente andando pela cozinha e abrindo as portas dos armários, olhando para a comida, para então fechar as portas sem comer nada. Aqueles eram momentos em que eu sentia a fome, e estava lutando contra mim mesma, me forçando a bloquear o desejo de comer. Em tais momentos, eu normalmente tentaria encontrar algo que poderia ir para a minha gaveta, então o levaria para o meu quarto. Às vezes, eu sentava na cama com o pacote na minha frente, em uma última tentativa de lutar. Então, a maioria de vezes punha o pacote de volta na gaveta. Às vezes, desistia e comia, apenas para me encontrar compensando com exercícios logo em seguida, mesmo que sequer tivesse energia para ficar de pé.

Este sintoma pode estar presente na maioria, se não todos, os transtornos alimentares e é uma bandeira vermelha. Pode acontecer na bulimia nervosa e no transtorno de compulsão alimentar pouco antes de uma compulsão, ou o paciente pode esconder e estocar alimentos em diferentes lugares da casa, onde as compulsões geralmente ocorrem, como uma maneira de ter uma estratégia no caso de algo acontecer. É uma maneira de entorpecer as emoções e sentir-se "no controle" da situação, como se já estivesse preparado para o que viria. Isso pode diminuir a ansiedade um pouco, mas se a pilha de alimentos for tocada, vista ou comida por qualquer outra pessoa, pode levar à raiva, vergonha e tensão.

O mesmo acontece com a anorexia nervosa. O simples ato de olhar para a comida na gaveta por algum tempo poderia me fazer sentir que já era suficiente e estarrecer a sensação de fome. Este ato simples reduzia minha ansiedade, porque eu senti que estava preparada. No entanto, também me tornava cada vez mais obsessiva e paranoica, preocupada caso descobrissem, me vissem pegar algo ou se comessem o que era meu. A obsessão e paranoia eram pioradas ainda mais pelo nível de desnutrição.

Como afirmado, esta é uma enorme bandeira vermelha. Armazenar alimentos nos cantos de sua casa para momentos quando se tornar desesperado e sente a "necessidade" de comer não é saudável ou normal. Se você estoca comida, é hora de parar e pensar em por que faz isso. Do que está escondendo? Para que você está se preparando? Qual é a relação que essa pilha de comida tem com a sua estabilidade emocional – ou com a falta dela?