Dia Mundial de Alerta para os Transtornos Alimentares no CETTAO

Hoje, tivemos um evento na Santa Casa da Misericórdia, destinado a profissionais de saúde e estudantes, familiares e pacientes, para ampliar a conscientização sobre os transtornos alimentares. Junho é aquele mês do ano, e hoje foi especial para mim por alguns motivos. Mesmo tendo passado mais de 13 horas do dia me concentrando nos transtornos e no tratamento de uma forma ou de outra (desde o momento em que acordei até o momento em que cheguei em casa), estou realmente feliz por ter acontecido assim, e grata também.

Já faz muito tempo desde a última vez que participei de qualquer evento desse tipo, o que me levou de volta aos tempos da escola normal e trouxe um monte de memórias e sentimentos que me causam alegria e náusea, então não é uma boa coisa, na verdade. De todo modo, hoje estou feliz, porque, felizmente, entre outras coisas, a escola acabou! (haha) Enfim. Estou cansada, cabeça caindo do pescoço, mas quis escrever, pois algumas coisas marcaram o evento para mim.


O testemunho de uma adolescente com paralisia cerebral. Sua personalidade brilhante e forte foi visível desde o primeiro momento e abriu meus olhos para algo que eu nunca tinha parado para pensar antes: como os TAs afetam as pessoas com paralisia cerebral.

Ter a dimensão da equipe pela primeira vez desde que comecei o meu tratamento. Eu já tinha visto todas aquelas pessoas antes, mas ouvir o número (28) e ver todas elas juntas na minha frente me fez querer chorar. Vinte e oito pessoas, algumas das quais vi se tornando parte da equipe (prestando atenção acidentalmente na conversa de outras pessoas, o que não é educado, sim). É inacreditável, e o que trouxe lágrimas aos olhos foi a súbita e impressionante magnitude do CETTAO, do voluntariado - quantas vidas estão mudando.

Vê-los hoje me fez sentir a necessidade de me tornar psicóloga muito mais evidente sob a minha pele. Olhei para o meu pai e disse "Eu quero isso," porque quero, e eles são a razão pela qual eu descobri que essa precisa ser a minha carreira, aliás. Sou insegura sobre minha capacidade, sinto que sou tão menos capaz de estudar do que antes do tratamento, tenho medo de não ser suficiente para ser psicóloga. Mas o que importa é que quero, e, depois de longas conversas, não posso fingir que uma segunda opção me satisfaria. O que eu vi e senti hoje foi prova suficiente de que esta é minha estrada também.

Eu vi ex-pacientes que foram lá para mostrar gratidão aos seus salvadores, às pessoas que seguravam as mãos deles em outras épocas. Vi garotas que estão lá toda terça-feira comigo comigo chorarem e conversarem sobre o que estavam pensando e, mais importante, sentar em uma sala cheia de pessoas e reconhecer o que às vezes não queremos admitir que admitimos no tratamento. Admitir escondido não é o mesmo que admitir de verdade.

E eu vi meu pai.

Meu pai foi convidado para falar sore como ele, minha família e nosso relacionamento mudaram com o meu tratamento, particularmente com a terapia de família (assim chamada porque os membros da família vão para lá, não porque a gente se senta em família para lavar roupa suja uma vez a cada 15 dias). Ele foi convidado na semana passada e eu só soube disso ontem, mas minha mãe logo disse: "Ele ficou todo orgulhoso, você precisava ver, de peito estufado". Toda a minha família está nisso, mas meu pai está indo além de tudo para acompanhar meu tratamento. Ele é responsável por me levar ao hospital e às vezes mal dorme. É difícil, e eu sei disso, e também sei que ser convidado para falar é a melhor forma de reconhecimento que ele poderia receber. Senti que ele estava sendo premiado.

Eu quero escrever uma atualização sobre mim em geral, mas não pude esperar para escrever sobre isso. Hoje foi super exaustivo (ainda tive duas consultas após o evento, fui à livraria para comprar um livro para minha irmã - comi no Bob's - e encontrei uma amiga que não via há anos por acidente, cheguei em casa tarde, na chuva, morrendo de dor em todos os membros), mas estou mesmo contente. Eu queria ter falado algumas palavras também, mas ainda sou muito tímida para isso (nunca estou maníaca quando preciso /bipolarjokes), mas, enfim.

As últimas duas semanas foram um pouco difíceis em relação a outras coisas e eu caí na espiral do "Eu sou gigante!" de novo (não muito! não muito! só o suficiente para me apavorar). Um dia saí de casa à noite e fui ver minha irmã na casa dela (ela mora com a minha avó), porque passei o dia inteiro chorando e andando pela casa dizendo que tinha "ombros de nadador". Eu vim ver minha irmã porque ela me faz rir. Comemos brigadeiro, assistimos Singin' in the Rain (melhor musical da vida) e High School Musical 3 (viciada em musicais? eu?), e fomos dormir depois que eu chorei muito mais e tomei meus remédios.

Na manhã seguinte, minha irmã disse que está feliz porque, quando ela estava na faculdade, morou por sete anos fora e, toda vez que ia para casa, eu ficava mais magra e mais magra. Ela disse que não me via mais como humana. Eu era uma cabeça em uma vara, como um alien. Minha proporção não era humana, minha pele não era humana, meu cabelo não era humano, meu comportamento provavelmente não era humano. Ela disse que está vendo sua irmã. Disse que agora pareço ser sua irmã. E enquanto isso me deixou desconfortável por algum motivo, também ficou na minha mente e me acalmou.

Acalmou. Não tive que reafirmar um milhão de vezes. Não precisei continuar escolhendo palavras. O que ela disse foi incorporado de maneira suave e acalmou a maré, de um jeito que nunca teria sido possível antes. E eu só vi a positividade nas palavras dela porque estou tratando do lado negativo do meu cérebro. E agora eu sou uma irmã em vez de uma cabeça em uma vara e isso é... legal. Bem legal. Mesmo.

E é isso aí! Até depois, eu acho.

Comentários

  1. Você está indo bem! Ainda muito orgulhosa da minha irmã. (E sim, eu leio o seu blog *-* )

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Esconder comida como um sintoma de transtornos alimentares

Minha experiência com o Centro de Valorização da Vida (Aviso de Gatilho)

CVV: expectativas, críticas e sugestões