Onde, onde, onde eu estive?

Cabelo novo que já está velho
Três meses sem uma única palavra aqui, uau. Se eu sentar e tentar conceber quanto tempo são três meses, não consigo. De fato, se tentar conceber quanto tempo são duas semanas, não consigo. Tempo se tornou uma noção difícil para mim. Bem, já era, mas costumava ser um vazio completo e eu não me importava; agora, é como se eu estivesse sempre pensando "Eu deveria saber, eu deveria saber" e as palavras formassem um emaranhado de resposta nenhuma. É bem assustador se eu der espaço para isso na minha cabeça.

Neste intervalo de três meses, as coisas foram agitadas. Sair de recaídas é um pesadelo. Dói – não há outra palavra, nada mais poético para dizer; simplesmente dói. Mas eu fiz e, pelo menos na minha percepção, minha relação com a comida evoluiu muito. Não sei a equipe pensa. Acham que fiz progresso? Ou que eu não estou fazendo o suficiente? Não faço ideia. Se começar a pensar, fico triste, então é melhor ignorar. Mas eu sinto que progredi. Me sinto mais madura, mais capaz de me afastar dos pensamentos doentios por conta própria. Pensamentos como "Estou gorda" ou "Eu deveria parar de comer de novo" estão cada vez menos frequentes. Quando vêm, digo a mim mesma que não é importante. Não estou gorda e nem é importante. Então vou fazer outra coisa. E é assim que meus dias vão.

Eu tenho tido um ótimo tempo tentando coisas novas. Três dias atrás, fui ao shopping com meu irmão e minha irmã (o quê?!). Minha família decidiu me empurrar para o cinema. Eu não gosto – a tela gigante machuca meus olhos, em especial quando os movimentos são rápidos demais; o som alto é, com toda a sinceridade, uma tortura, causando dor aos meus ouvidos. Quando assisto a um filme como o que vimos na quinta-feira (sim, Infinity War), passo 80% do tempo tentando suportar a tontura. A velocidade, cores intensas, a desordem e o som das cenas de ação me deixam ansiosa, quase desesperada, porque é assim que o mundo é o tempo todo para mim quando estou lutando com a psicose. Eu tento explicar, mas ninguém entende, então fui ver a coisa. E o filme é ótimo, ao contrário das sensações.

Mas a melhor coisa foi que eu comi no Bob's pela primeira vez na vida. Foi fantástico. Eu comi um daqueles sanduíches enormes, aqueles com duas carnes e muita salada e uma tonelada de queijo. Eu pensei que não conseguiria (é muita comida, nossa), mas comi e até disse "Eu comeria outro". Foi delicioso, muito bom. Mas eu também comi duas porções de batatas fritas e frango empanado. Comer carne de novo é algo que me parte o coração. Mas eu preciso. Focar no lado ruim não é a melhor estratégia de recuperação. É estranho, porque me sinto culpada, sinto necessidade de pedir desculpas, mas sei o quão ruim minha saúde estava, o quadro que meus exames mostravam, e como essa era a melhor e talvez a única maneira de evitar mais complicações a tempo. As melhorias desde então são claras.

Também comi bolo de chocolate feito por pessoas que não sabem fazer um bom bolo (mas valeu a pena tentar, eu acho) e um monte de pipoca. No dia seguinte, sexta-feira, comi mais batatas fritas e pizza. Sim, isso me deixou ansiosa. Eu disse aos meus pais "Eu vou ficar doente, meus próximos exames vão mostrar algo errado, comida gordurosa de novo" e eu estava um pouco histérica, mas eles me acalmaram. Sim, dois dias seguidos, mas dois dias em uma eternidade. Sobrevivi. Eu não tenho me sentido bem nesta última semana (nada a ver com comida ou sensações físicas, na verdade, é só que os ~astros estão se movendo e causando uma pequena bagunça no meu cérebro, mas acabo não comendo bem), mas hoje eu estou me certificando de voltar à rotina certa.

Eu só queria escrever uma pequena atualização. Comi pão de queijo com Nutella (é bom, mas prefiro cada um no seu canto), dividi com uma nutricionista que nem é aquela que trabalha comigo para uma sessão de exposição, almocei com uma menina do tratamento e sua mãe em um restaurante que eu não conhecia. Eu tenho comido aqueles maravilhosos bolos de brigadeiro toda terça-feira, às vezes até duas vezes. Não só com comida, mas também estou crescendo muito, ainda que devagar, quando se trata de interação social. Tenho uma nova amiga (talvez?), outra garota do tratamento, então agora são três garotas! Mas também consegui falar com dois guris (não estão tratando transtornos alimentares), então é um grande progresso. Pelo menos na minha opinião, as coisas estão indo bem!

Então, até a próxima! 🍒🍇

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esconder comida como um sintoma de transtornos alimentares

Minha experiência com o Centro de Valorização da Vida (Aviso de Gatilho)

CVV: expectativas, críticas e sugestões