Encontrei meus amigos na manhã passada

Este vai ser um post longo.
Se quiser algo mais objetivo, aconselho a ir direto para a lista com marcadores ali embaixo!

Eu estava ansiosa por ontem. Por um mês inteiro, não consegui parar de pensar em ver a equipe de novo. Muitas vezes, disse a uma amiga: "Não posso fazer isso sozinha, eu preciso delas". Quando as coisas ficaram muito difíceis, não pela comida, mas por causa de certas obsessões que tenho, segurei, com as duas mãos, perto do coração, a turmalina negra que minha nutricionista me entregou. Quando tive que me acalmar e esperar que pensamentos ruins passassem, fingi falar com a psicóloga. E minha psiquiatra sempre estava por aqui, para me lembrar de que não vou voltar para a enfermaria psiquiátrica toda vez que me senti assustada e ansiosa por causa disso (o que aconteceu muitas, muitas vezes).

A verdade é que são, como meu pai e eu falamos algumas vezes desde há alguns meses, realmente anjinhos na minha vida. Confio nelas tão inteiramente. Sei que não posso sentir isso de uma maneira que me faça ficar dependente; dependência está definitivamente longe do objetivo do tratamento. Mas espero que, uma vez que eu esteja recuperada e receba alta, possamos mesmo manter uma relação de amizade, em vez de profissional-paciente. Eu não quero perder pessoas tão incrivelmente boas. Mas, bem, isso não vai acontecer agora, então vamos focar no presente (vejam só, amigos! terapia funciona!).

Foi uma jornada atípica até o hospital. Foi rápido. O tráfego estava fluindo muito bem e não tivemos problemas. Chegamos na barcas às 7:36, embora tenhamos saído atrasados quando saímos da casa (levei eras para conseguir fechar meu vestido e, sim, foi por isso que saímos tarde). Talvez seja porque ainda é janeiro, vai saber. Eu estava ansiosa, mas alegre. Coloquei meus fones de ouvido e fui escutando Conventional Weapons do My Chemical Romance, mentalmente listando o que tinha a dizer. A sensação de voltar... Às vezes, ao longo do ano, você fica frustrado, exausto, implora por uma pausa, quer chorar, socar todo mundo, bater a cabeça na parede, mas quando olha para trás e vê o quão longe chegou, é incrível.


Ver minha psicóloga novamente quase me fez chorar. Eu estava de pé na frente do setor de psiquiatria quando ela chegou e disse "Olá~!" e eu disse "OLÁÁÁ!" Nós nos abraçamos e eu disse que não a soltaria. Não queria soltar. Fiquei tão feliz, tão feliz! É engraçado. Abraçar pessoas não é fácil para mim. Normalmente, só abraço meu pai. Não muito tempo atrás, ela estava tentando me fazer sentir confortável com o menor contato físico. Agora eu a abraço assim. Quase pulei em cima dela. De verdade, foi inacreditável e espero que ela tenha ficado feliz, porque eu fiquei chocada e louca de felicidade. É uma das pequenas coisas que me fazem notar o quanto sou diferente de quem era dois anos e meio atrás. Quem fui toda a minha vida. É surreal. Não é que "não fosse eu" porque eu estava doente. Não gosto dessa abordagem. Era eu, e essa é a parte mais triste. Mas o que vale é que mudei.

Com a psiquiatra, também foi engraçado. Ela sempre está sentada atrás da mesa, mas ontem eu entrei no consultório e a primeiríssima coisa que fiz, meio segundo depois de fechar a porta, foi implorar: "Posso te dar um abraço? Eu senti tanto a sua falta, estou tão feliz por estar de volta!" Ela levantou e me abraçou sem hesitação e eu me senti tão aliviada. Abraços são realmente mágicos. Quando nossa sessão estava terminando, ela me fez sorrir: "Você gosta de escrever, expressa o que sente tão bem... Me faz escrever mais do que qualquer outro paciente, é o que quero dizer, então tem que continuar". É curioso, porque na minha cabeça nada faz sentido. Quando escrevo no computador, é mais fácil. Posso escrever, ler, editar, cortar, corrigir, reler, escrever um pouco mais. No papel, é mais difícil, e é por isso que ainda é tão frustrante quando tento agora. Quando estava fora de controle, não me importava o sentido. Nada fazia sentido, mas escrevia. Agora tenho que pensar e colocar as coisas em ordem e isso atrapalha a escrita, porque sempre penso duas vezes. É cansativo e confuso, porque minha cabeça é uma bagunça. Acabo não escrevendo.

Com a nutricionista, o tom foi um pouco diferente no início - não pelo motivo que eu previ, mas por causa de algo que aconteceu apenas alguns minutos antes da nossa sessão. Eu estava na recepção e vi outra garota que está tratando um transtorno alimentar. Nunca a tinha visto, porque ela geralmente chega depois de eu sair, mas meu pai conhece o pai dela por causa da terapia de família. Eu a vi e me segurei para não chorar. A anorexia começou a gritar. Ela é mais magra do que eu, mais magra do que eu. Por que não posso ser assim? Por que ela pode e eu não posso? Por que esse direito foi tirado de mim? Por que não posso viver dessa forma? Ela está mais doente do que eu, ela é melhor que eu, quero morrer. Foi difícil. Ela perguntou: "O que acha melhor? Ser magra com todas as coisas ruins que vêm com isso ou não ser tão magra mas poder falar, conversar, pensar, rir e fazer outras coisas que não poderia fazer antes?" Eu olhei muda para a mesa. Estava perdida. Ela disse: "Pode falar a verdade". Ela pensou que eu escolheria a primeira opção, mas eu estava realmente confusa. Teria escolhido a saúde antes, mas, talvez porque tivesse acabado de acontecer, não tinha resposta. Eu não tinha resposta para dar. Nós conversamos um pouco sobre isso, ela me deu conselhos e me disse para pensar sobre isso durante a semana.

Agora, esses foram os comentários sobre reencontros e o que se passou logo de cara ao ver todas as moças que amo tanto. (Sim, a conversa com a nutricionista foi a primeira coisa, porque meu humor e expressão estavam completamente diferentes de como estavam antes.) Vou tentar escrever uma lista sobre o que falamos durante as consultas, porque é mais fácil organizar dessa forma. Espero que eu me lembre de tudo, porque falei tanto que meu cérebro pode ter quebrado, mas vamos tentar.

  • Não comi bem durante o recesso. Isso é o mínimo para dizer que tive um desempenho terrível. Estava apavorada (de novo) de ter perdido tanto peso que eles me cortassem do tratamento. Eu sou obcecada por essa ideia e ela volta a cada vez que tenho dificuldade em comer: o pensamento de que não vou mais ter ajuda alguma se falhar.
  • Várias vezes precisei comer a comida batida no liquidificador e sozinha, no meu quarto. Outras vezes, não comi tudo o que estava no prato. Houve sequências de dias em que sentia náuseas sempre que olhava para comida, e muitos dias em que comia o menor pedaço de qualquer coisa e queria beber desinfetante para corrigir o "estrago".
  • Por outro lado, escutei o meu corpo, apesar de ser muito difícil: estava desesperada com a questão da carne (tenho sido vegetariana por anos, mas parece que algo está errado agora e eu preciso de carne), mas comi um dia, para ver como me sentiria. Foi estranho. Mas, falando com a nutricionista (vegetariana) hoje, ela disse que tenho que respeitar os desejos do meu corpo. Talvez não seja nem uma necessidade nutricional que esteja causando isso, mas um desejo passageiro que tenho que respeitar. O que importa é que meu corpo está pedindo carne por algum motivo, então vamos dar.
  • Eu contei a minha irmã sobre o abuso. Foi provavelmente a coisa mais corajosa que fiz neste mês. Agora, minha irmã e eu falamos sobre tudo porque... bem, não há muita coisa pior do que isso, então não há necessidade de mantermos segredos.
  • A psicóloga ficou orgulhosa de mim. Acho que provavelmente ficou mais orgulhosa do que eu. Eu ainda tenho dúvidas, pensando se fiz o que é certo. Nem tenho certeza do que aconteceu, por causa das lembranças quebradas. Sei que é normal lembrar só partes dessas coisas, mas a equipe... eu espero que encontrem algo no meu cérebro que diga se estou mentindo ou não. Sei que não dá, mas quero ter uma resposta, porque é uma tortura para mim. É confuso, dói. Não quero acusar alguém de algo que não fez, porque passei a vida toda sendo acusada de coisas que não fiz e não era. Há horas em que penso: "Aconteceu. Você tem as consequências para provar. Tem partes de memória para provar. Tem as datas, os lugares, nomes e comportamentos para provar. Foi o que foi." Mas outras vezes eu quero me matar porque 'sou mentirosa'.
  • Falei com psicóloga/psiquiatra sobre a intensificação do que faço no couro cabeludo.
  • A psiquiatra imediatamente perguntou se eu como cabelo. Eu disse que costumava comer a raiz do cabelo (ainda faço isso às vezes). Ela disse: "Não importa o quê, não coma cabelo, porque a gente não digere cabelo e vai acabar tendo que fazer uma cirurgia para limpar os intestinos, está bem?" Depois, olhou o lado direito da minha cabeça e disse que, se continuar assim, vou precisar ver um dermatologista, mas que vai tentar outras coisas para a ansiedade antes.
  • A psicóloga sugeriu o uso de luvas. Eu perguntei o que fazer quando eu começar a surtar por não conseguir arrancar nada mesmo coçando, por causa das luvas. Eu sei que vou surtar, então é bom já saber. Ela disse para eu segurar gelo e aguentar o incômodo que isso vai causar, até não sentir mais nada. Eu perguntei se o gelo não gruda na mão, né... mas parece que não.
  • Ficaram chocadas quando disse o problema com a minha mãe no primeiro dia de recesso.
  • A psiquiatra me fez repetir algumas vezes, como se não houvesse entendido, e disse que não há explicação possível para isso; a psicóloga disse que minha reação inicial foi muito boa para o que eu tinha ouvido e que minha mãe fez uma péssima escolha de palavras.
  • A nutricionista disse algo como "Ela disse que você escolheu?!" Confessei que sei que posso ser agressiva. Eu sou uma pessoa realmente agressiva em certos períodos, e é difícil de prever. Estou bem agora por causa dos medicamentos. Então, eu posso ter soado um pouco agressiva, porque fui pega de surpresa e o assunto era algo muito traumático, mas tenho certeza de que não fui muito agressiva.
  • Quando eu contei isso e relatei as questões que tive durante o recesso, com todas as tentativas de colocar comida para dentro e como o episódio com minha mãe me desestabilizou por completo, ela perguntou se eu usei a turmalina. Eu fiquei muito contente por ela perguntar.
  • Eu perguntei se há alguma média de peso seguro para mim. Ela disse que depende da minha reação etc. Bem, eu já sabia disso, mas precisava perguntar (provavelmente por causa do que aconteceu antes).
  • Falamos da menstruação infernal. Senhor, como eu queria arrancar meu útero e oferecer como jantar aos urubus! De qualquer forma, meu fluxo menstrual tem sido bastante intenso há alguns meses e me deixa louca. Ela disse para prestar atenção nisso e na necessidade de carne, para ver se há relação.
  • Preciso tentar manter o diário de refeição dessa vez. Ano novo, novas chances. Vai dar certo!
  • A boa notícia é que, apesar de todo o desespero, os ataques de pânico, as diferentes texturas de comida que me enojaram e coisa e tal, eu não perdi peso!!!!!
  • A má notícia é que não ganhei peso.
  • Ah, a psiquiatra aumentou a dose de fluvoxamina de 100 mg por dia para 150 mg e adicionou Haldol. Além disso, me pediu um exame de sangue para ver se estou bem para tomar a vacina contra febre amarela.
E é isso. Rapaz, quando saí do hospital, meu cérebro estava em uma espiral. E estava TÃO quente! Odeio verão, jeez. Chegamos na estação das barcas e finalmente tivemos um alívio. A estação da Praça XV não chega nem perto de ser tão bem climatizada quanto a Arariboia, mas tudo bem. Na barca, atravessando a baía, dormi. Quando chegamos em Niterói, torramos mais um pouco no caminho até o terminal rodoviário. No ônibus, dormi. Dormi muito. Pegamos o táxi para casa e eu me segurei para não dormir. Cheguei em casa, troquei de roupa, deitei na cama e dormi por cinco horas. Acordei, comi e dormi de novo. Ah, que saudade senti da exaustão pós-Santa Casa! 😂

Não sei se é fácil de ver, mas estou feliz. Não sinto assim há muito tempo. Todo mundo foi tão gentil comigo lá. E foi divertido sentar para conversar com outros pacientes enquanto esperava para ser atendida pela psiquiatra. Acho que todo mundo fala e se ouve porque quem está ali sabe como é precisar dessas coisas no dia a dia. Eu estava falando com uma menina sentada ao meu lado e cada uma estava listando seus medos e conversando sobre eles. A minha lista acabou chamando atenção das pessoas... e perguntas começaram. Como estava de bom humor, conversei. Há períodos em que me deixo conversar e outros em que me enrolo em um canto. Uma senhora perguntou se eu vou à missa. Eu, prevendo o futuro da conversa, suei frio e falei "Err... não, eu... não sou cristã". Então, ela perguntou "Você é espírita, não é?" (Bem, espíritas são cristãos, mas vamos deixar para lá.) Eu disse "Não, eu sou bruxa". A reação geral foi hilária. Todo mundo chegou para trás, dizendo "Bruxa?!" Mas a garota do meu lado disse: "Ah, Wicca?" Eu disse que não sou wiccana, não tenho religião. Só sou bruxa. Aliás, ela era tão fofa. Fiquei lá imaginando um encontro, porque sim.


Além disso, sentada lá, na "terapia de grupo" que não foi planejada, falei com um homem!!!!! Eu não sei sua idade, mas diria que era próxima da do meu pai. Ele era na verdade um cara bem legal, falando sobre poesia, rituais religiosos, teatro. Ele estava muito preocupado com a minha situação e disse mais de uma vez que aquele momento, conversando com eles, era bom para mim, que preciso de pessoas com quem conversar. Também falou que é bom ver meu pai e eu sempre juntos. Foi legal e fiquei orgulhosa de mim.

Como eu disse, postagem longa. Mil perdões. 
🌸 Tenham um bom dia! 🌸

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Esconder comida como um sintoma de transtornos alimentares

Minha experiência com o Centro de Valorização da Vida (Aviso de Gatilho)

CVV: expectativas, críticas e sugestões