Sobre os últimos dias (ou meses)

Olá a todos. Em primeiro lugar, muito obrigada por todas as pessoas que leram meu último post. Eu não esperava tantas leituras, em especial porque faz menos de duas semanas desde que escrevi. Isso é um choque. Mas não sei se perceberam: eu não disse nada sobre como a recuperação está em relação à comida. Então, gostaria de escrever sobre isso agora.


Algum tempo atrás, eu comecei a perder peso mais uma vez. Comecei a cair daquele ponto e, agora, não estou bem. Apesar de ter tentado, não sei qual foi o gatilho. Minha equipe está preocupada. Isso causou muitas sessões de terapia difíceis e minha nutricionista tentou jeitos diferentes de me ajudar, mas nada parece funcionar. Não estou feliz com isso.

No último dia no hospital, prometi à psicóloga que tudo ficaria bem. Disse que funcionaria. Minha nutricionista preparou um plano de refeição detalhado e disse ao meu pai que eles deveriam ficar responsáveis por preparar minha comida e ter certeza de que eu comi. Mas as coisas não estão acontecendo como deveriam, o que está afetando meus nervos.

Falando sem rodeios, meus pais não estão fazendo o que deveriam. Eles preparam comida um dia e passaram três dias sem cozinhar, então comi sobras, o que não foi suficiente. Não comi durante a maior parte do dia. Me senti triste. Chamei a atenção deles, lembrei que eu não conseguia cozinhar e que do que a nutricionista pediu. Disseram que não lembravam de nada disso. Me senti como uma inconveniência, como se os estivesse forçando a fazer.

Já tive alguns colapsos pesados nessas semanas. No primeiro dia após o início do recesso, minha mãe disse algo que me lembrou meu maior trauma. Eu disse para ter cuidado com as palavras, mas provavelmente fui agressiva, porque é minha primeira reação. Minha mãe ficou furiosa e saiu, pegou um táxi e foi para algum lugar com meu pai. Fui para a cama e tentei não chorar. Acordei meu irmão e pedi para segurar minha mão. Ele perguntou o que aconteceu e eu comecei a chorar. O choro aumentou tanto que meu irmão chamou minha irmã para tentar me acalmar. Não conseguia respirar. Disseram que meu rosto ficou roxo e que eu estava tentando arranhar meu rosto, então minha irmã segurou meus braços.

Outro colapso foi quando tive um dos meus piores dias com as refeições. Eu tenho tido vontade de vomitar por conta dos pensamentos de culpa, embora não tenha intenção de agir. Mas eu estou levando mais tempo para comer, evitado olhar para a comida. Um dia, chorei à mesa enquanto almoçava com meu pai. Depois de ir para a cama, fui atingida por um medo enorme de perder peso e ficar doente como antes. Apavorada. Minha reação foi levantar e pedir a meus pais que fizessem minha comida como papinha.

Chorei e chorei enquanto falava, ficaram chocados. Minha mãe perguntou por que aquilo tão de repente, já que eu estava "comendo tão bem". Eu não pude acreditar no que ouvi. Mas meu pai perguntou "Está assim porque colocaram tanta pressão em você antes do recesso?" Não sei. Não sei. Mas disseram que fariam. Passei duas horas chorando e dormi com eles. No dia seguinte, meu almoço foi feito assim, mas, no jantar, não havia nada. Nem no almoço do dia seguinte, até eu chorar de novo.

Naquele dia, tive outro colapso à noite. Estava no meu quarto com minha irmã. Entre as muitas coisas que disse a ela, uma foi: "Eles pensam que eu me colocaria nessa situação se não fosse necessário? É humilhante ser tratada feito um bebê, mas preciso!" É difícil para mim colocar meus sentimentos em palavras e permitir que saibam o que está acontecendo na minha cabeça. A única razão pela qual eu disse à minha irmã essas coisas foi porque me senti tão sozinha e desapontada, como se não pudesse contar com ninguém.

É complicado. Pedir aos meus pais as mesmas coisas repetidas vezes me lembra de como as coisas têm sido por toda a minha vida, mas o que mais dói é lembrar como sempre parecem ignorar a intensidade dos meus problemas até chegar a um ponto crítico. Não sei se é minha culpa. Parece que não estou sofrendo? Me comporto como se eu estivesse bem? Mas eu sei que peço ajuda. Sei disso. Eu tenho que provar que preciso de ajuda? Uma das piores coisas é não ser levada a sério quando me abro. Cresci ouvindo o quão dramática eu era por ser tão sensível, então tenho medo de ouvir isso de novo.


Bem, desde então minha irmã tem tentado me manter calma quando como. Mesmo assim, tenho pulado o café da manhã porque não quero sair da cama, pulado o jantar porque não tenho o que comer, almoçado às quatro da tarde porque é a hora em que a comida fica pronta. Como esperado, quanto menos eu como, mais fortes são os pensamentos doentios. Tenho ficado obcecada por coisas sobre as quais eu tinha parado de pensar, como querer parecer celebridades, tentar validar minha doença procurando famosos que eu admiro que têm anorexia e parecem comigo quando estava no meu pior estado (não que eu os admire por serem doentes, mas os admiro pelo que fazem e, infelizmente, são doentes também).

Hoje, uma amiga disse que o jeito que escrevo muda quando estou restringindo a ingestão por qualquer motivo. Não foi a primeira vez que disse isso, mas desta vez perguntei como. Ela disse que minhas palavras ficam secas, ásperas e estranhas. Quando estou mais saudável e minha mente está funcionando melhor, as palavras são mais bonitas e fluem melhor. Eu disse que percebo também. Quando escrevo e leio minhas próprias palavras em tempos assim, penso "Isso soa amargo. Tão feio". Isso me deixa triste.

Hoje eu tentei fazer o contrário do que a doença me disse para fazer. Não posso dizer que o resultado foi um sucesso, mas quando ela disse:"Você não pode comer isso", fui à cozinha e exatamente aquilo. Quando ela disse "Vamos pular o jantar de novo", eu jantei. Isso também foi por causa da minha amiga. Ela me incentivou durante o dia e eu sou tão grata. Este foi o segundo Natal desde que nos conhecemos, em março do ano passado, e ela é um tesouro na minha vida. A forma como nos apoiamos me deixa emocional e orgulhosa. É a primeira amizade realmente saudável da minha vida. Eu te amo, Sophie! ❤️

Então, sim, com relação à comida, tem sido difícil. Isso é ruim, porque o objetivo principal do tratamento é, é claro, me fazer ganhar peso até um ponto saudável, mantê-lo estável e curar meu relacionamento com a comida. Estou ciente de que as coisas estão críticas, de que tenho que mudar o mais rápido possível. Não quero ficar mais e mais doente, mas me sinto presa. Lutar contra essa força destrutiva é doloroso. Eu já disse antes: talvez o motivo pelo qual se recuperar de um transtorno alimentar seja tão excruciantemente doloroso seja porque é como se alguém dissesse que você só pode viver se você se matar e isso vai contra toda lógica. Mesmo se você souber que a sua lógica está errada, confiar é difícil.

Mas vou continuar tentando. Mesmo que eu chore, chore, chore e entre em pânico, ainda tenho esperança. 2018 será um ano de desafios, mas farei o meu melhor para passar por todos eles. Estou orgulhosa do que fiz neste ano, mesmo que não tenha sido "perfeito". Foi o melhor ano que já tive. Passei a maior parte da vida sem ver cores, como se meu cérebro só pudesse registrar preto, azul escuro e roxo de trovões. Não importava onde eu olhasse, não via cores. As emoções estavam me comendo viva. Estava fora de controle, constantemente destruindo a mim e tudo ao meu redor. Mas agora vejo cores.

Isso é tudo o que preciso dizer.
Eu vejo muitas cores.

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