Internação psiquiátrica e as consequências
Recentemente, como você deve ter notado, mencionei muitos pensamentos suicidas recorrentes, que evoluíram para ideação suicida. Primeiro, meus remédios foram tirados de mim, mas como não pareceu suficiente para me impedir de tentar encontrar formas de me matar, no dia 11, psicóloga e psiquiatra concordaram que a melhor solução seria me internar. Assim, no dia 12, fomos ao Hospital Psiquiátrico de Jurujuba, onde minha tia trabalha, mas fomos informados de que deveríamos voltar para Itaboraí e tentar no Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior. Após uma consulta com um clínico geral, uma enfermeira e uma psicóloga, foi determinado que eu seria internada no mesmo dia.
Minha internação durou seis dias e, apesar de ter voltado para casa no dia 18 e tentado, mais de uma vez, escrever sobre a experiência e explicar minha ausência, simplesmente não consegui. Eu tive uma sessão de terapia e vi minha psiquiatra duas vezes desde que recebi alta, mas não foi suficiente para me ajudar a digerir o que aconteceu naqueles seis dias. Muita coisa mudou desde que voltei para casa, mas, mais importante do que isso, muita coisa mudou dentro de mim. As coisas que eu vi e as coisas que ouvi, a maneira como me senti, a tensão constante, não posso me livrar dessas coisas. Me perseguem constantemente. Não paro de pensar sobre aquele lugar, aquelas pessoas, condições.
Durante os dois primeiros dias, minha mente estava muito ausente, muito perdida para notar algo ao meu redor. Enrolei-me na cama e não saí até que uma enfermeira me disse que eu tinha que tomar um banho. Ela me prometeu que ficaria na frente da porta e não deixaria ninguém entrar, mas ouvi quando ela se afastou e foi para o outro lado. O banheiro era sujo (e, por mais que a equipe de limpeza fizesse seu trabalho, continuava cheio de urina pelos cantos, todos os dias) e, especialmente porque estava em uma enfermaria mista, eu estava com medo que alguém entrasse, então só lavei os braços e rapidamente mudei de roupas. Voltei para a cama e fiquei lá, mas minha mente acordou.
Comecei a notar coisas: a forma como os enfermeiros tratavam os pacientes, como os arrastavam pelos braços ao longo da enfermaria para amarrá-los aos leitos, a maneira como os pacientes de repente começavam a gritar e ameaçavam matar os outros, como alucinavam e agiam de maneiras absurdas, comendo lixo e fezes se desassistidos. Eu estava com medo de sair de minha cama e fazer algo "errado", que faria com que me prendessem também. Vi um enfermeiro pressionar o pescoço de uma paciente com o braço contra a parede, ouvi o som da cabeça dela batendo contra a parede três vezes, na minha frente. Vi enfermeiros caçoando de um paciente fora de controle, inventando apelidos homofóbicos para ele. Eu só saía do leito quando meus pais me visitavam.
Eu esperava receber alta na segunda-feira, mas não aconteceu. Quando meus pais foram me visitar e me disseram que eu teria que ficar, eu tive um colapso nervoso e precisei de duas enfermeiras, uma psicóloga e ambos os meus pais para me acalmar. Como eu estava completamente desesperada, pediram autorização para um de meus pais passar a noite na enfermaria comigo. Não parava de chorar e minha mãe disse, depois, que naquele dia considerou me tirar do hospital mesmo sem a alta psiquiátrica. Meu pai passou a noite comigo. Na terça-feira de manhã, falei com outra psiquiatra (eles mudavam todos os dias) e disse a ela que, se passasse mais um dia naquele lugar, teria uma crise histérica.
A psiquiatra perguntou sobre minha ideação suicida, se ainda estava lá, e eu disse que não tinha planos de agir mais, porque o hospital me fez perceber o quanto minha família se importa. Minha tia-avó e seu marido foram me visitar, minha tia-bisavó, com seus quase 90 anos, também. Minha avó, meu tio, meu irmão, fora meus pais, que estavam lá todos os dias. Eu sempre senti que minha família não se importava com o que eu sentia e como meu cérebro era "disfuncional", mas estar no hospital me fez perceber que, de fato, eles nunca souberam como a situação era grave. A internação foi um choque para todos, inclusive para mim. Eu nunca previ isso. Pensei, no passado, que seria internada pela anorexia, mas nunca por causa de ideação suicida. Foi repentino e traumático.
Recebi alta no dia 18 e, assim que saí do hospital, voltei para casa, troquei de roupa, e saí correndo para conseguir chegar na Santa Casa de Misericórdia e ver minha nutricionista e psiquiatra (já era tarde demais para ver a psicóloga). Conseguimos chegar em tempo recorde. Depois de falar com a nutricionista (não lembro muito da conversa, estava exausta e "em choque"), segui direto para o consultório da psiquiatra, em uma maratona que parecia não ter fim. Descrevi à psiquiatra como as coisas se passaram no hospital, à beira de lágrimas. Estava esgotada e praticamente sem voz, fazendo muito esforço para conseguir falar a uma altura que fosse suficiente para ser ouvida. Minha psiquiatra disse ser absurdo terem me internado em uma ala mista e com pacientes com quadros tão mais graves que o meu e prometeu nunca mais me enviar àquele hospital.
Então, o que aconteceu desde que voltei para casa? Bem, já faz duas semanas e ainda estou "perdida". Na primeira semana, tentei me concentrar em ajudar minha mãe com tarefas domésticas e brincar com os gatos, mas agora não consigo fazer nada e passo a maior parte do tempo dormindo ou perambulando pela casa. Sinto-me desmotivada, irreal, ausente. Tenho tentado escrever sobre o que aconteceu todos os dias desde que cheguei em casa, mas isso me perturba tanto e nem uma palavra sai (até agora). Não consigo mais dormir sozinha, porque começo a relembrar, visualizar e ouvir tudo outra vez, então passo as noites com meus pais. Nas duas únicas vezes em que dormi na minha cama, minha mãe ficou comigo até eu dormir e eu chorei bastante.
Por outro lado, parece ter aproximado minha família. Meus irmãos e eu estamos muito mais próximos desde que voltei. Antes, eu evitava todos os tipos de contato físico (eu me recusava a abraçá-los ou beijá-los, e odiava quando me tocavam "sem permissão"), mas agora estou constantemente abraçando-os e beijo suas bochechas quando me pedem - ou quando não pedem). Meus tios agora sabem sobre os diagnósticos e se oferecem para me levar a passeios, para que eu saia de casa e me isole menos. Outra coisa que mudou é que, finalmente, consegui voltar a ler. Muito lentamente, é bem verdade (pouco menos de 200 páginas por semana), mas depois de passar um ano inteiro sem conseguir ler absolutamente nada, esse avanço animou toda a minha equipe.
Mas, em geral, eu estou realmente cansada e perdida e não quero falar com as pessoas, não porque não me importo, mas porque ainda estou tentando descobrir o que fazer com a minha vida agora que tenho tais lembranças horrendas na cabeça. Por isso, se eu desaparecer (mais uma vez), é este o motivo. Obrigada por continuarem lendo o blog durante a minha ausência! Os números continuam me surpreendendo.
(A fotografia da postagem é trabalho da Laura Makabresku, minha fotógrafa favorita!)
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