A diferença entre fazer dietas e a anorexia
Esta postagem me foi requisitada há meses via Twitter, mas eu nunca tive a energia para fazê-la. Esta é uma questão muito delicada e polêmica, e também muito confusa para a maioria das pessoas, então eu não queria escrever algo de forma desleixada.
Em primeiro lugar, você deve ter notado, através de minhas postagens antigas, que eu não acredito que haja uma "forma saudável de fazer dietas". Para mim, as dietas, neste sentido da palavra, são sempre perigosas e nunca saudáveis. Isso é porque, em geral, dieta significa comer menos do que o seu corpo precisa e se privar de alimentos que lhe dão prazer. Assim, vejo dietas como inerentemente perigosas, tanto para o corpo quanto para a mente, e eu sei que cada vez mais nutricionistas estão chegando a um ponto de concordar com isso (como a Nathália Petry e a Andreia Meireles).
Fazer dieta por um período de tempo e perder peso não significa que vá se manter tal peso, porque as dietas não são sustentáveis. Como já mencionei antes, há décadas se sabe que 95% das pessoas que perdem peso com dietas acabam ganhando de volta esse peso (e, às vezes, ganhando peso extra) em uma questão de um a três anos. No entanto, nós, como uma sociedade, estamos cada vez mais obcecados com dietas. Enquanto isso, as taxas de obesidade e insatisfação corporal crescem. Evidências dos efeitos negativos das dietas são tão claras que eu, pessoalmente, acredito ser até mesmo antiético de um nutricionista colocar um cliente em uma dieta restritiva.
Deixe-me apontar alguns dos efeitos negativos da dieta:
- Causa fadiga e mudanças extremas de humor pelo baixo nível de açúcar no sangue
- Retarda o seu metabolismo, porque seu corpo acredita que você está morrendo
- Seu intestino pára de funcionar corretamente e você pode ter cálculos renais
- Deficiências de nutrientes, que podem levar a anemia grave
- Aumenta o risco de se desenvolver um transtorno alimentar (anorexia nervosa, bulimia nervosa ou, mais frequentemente, compulsão alimentar)
O resultado mais frequente de dietas é que você acaba com compulsão alimentar em algum momento. Isso é conhecido como "comer reativo", e é literalmente o seu corpo reagindo em desespero, tentando continuar vivo. Isso leva a um ciclo interminável de restringir a ingestão, ter uma compulsão, odiar a si mesmo por fazer isso, e restringir outra vez, até que você acaba por desistir, ou as compulsões se tornam cada vez mais frequentes, ou você começa a fazer outras coisas, como se exercitar ou vomitar para "compensar", ou desenvolve um quadro mais intenso e severo de restrição regrada.
(Indico este artigo do Huffington Post para ver a opinião de especialistas a respeito.)
Agora, onde exatamente está a linha entre a anorexia nervosa e as dietas "normais"? Eu poderia dar respostas diferentes a esta pergunta. Eu poderia dizer que a linha é quando se atinge um baixo peso corporal (geralmente um IMC igual ou inferior a 18) e se recusa a ganhar peso, porque não quer "ser gordo", mesmo que esteja longe disso. É a resposta básica de acordo com o DSM-V, que lida com o aspecto físico da anorexia.
Há poucos dias, me perguntaram "Mas e se você tiver todo o comportamento anoréxico, mas ainda estiver em um peso saudável, você não tem anorexia? Você é ignorado?" Acho importante explicar a razão pela qual o diagnóstico de anorexia tem uma "limitação de peso": acontece porque o baixo peso afeta seu cérebro severamente e, portanto, você precisa de um tipo específico de tratamento e pode não responder à terapia, porque suas funções cognitivas são prejudicadas pela desnutrição.
Se tem todo o "comportamento anoréxico", mas não está abaixo do peso, dependendo do que você faz, poderia ser enquadrado no diagnóstico de TANE (transtorno alimentar não especificado), ou no diagnóstico bulimia nervosa Anorexia é muitas vezes, erroneamente, vista como "o verdadeiro transtorno alimentar" ou o único que oferece risco à vida, mas quero lembrá-lo que é uma mentira. Todo transtorno alimentar oferece risco a saúde física e mental e requer tratamento e ajuda profissional. A anorexia não é um troféu e estar doente não é uma competição. Seu sofrimento não é menos importante ou menos válido por causa do sofrimento de outra pessoa.
Devido a isso, vou estender o assunto e tentar ajudá-lo a identificar a linha entre dietas e transtornos alimentares, onde simples dietas terminam e se tornam doença, apontando alguns sintomas de transtornos alimentares e como se manifestam.
1.Extrema relutância em quebrar a dieta
Pessoas com transtornos alimentares restritivos fazem quase tudo o que é possível para evitar quebrar suas dietas. Jogar comida fora, acumular comida "para comer mais tarde" (mas o "mais tarde" nunca vem) e evitar refeições em família são algumas das formas mais frequentes de evitação e esquivamento.
2. Frequentes episódios de compulsão alimentar
Pode ser causado por duas coisas: ou você está em angústia emocional e descontando na comida, ou está restringindo sua ingestão tão severamente que seu corpo está ficando louco para tentar salvar você da morte. De qualquer maneira, é uma enorme bandeira vermelha. Comer até se sentir doente e não ter controle não deve ser ignorado.
3. Constantes pensamentos sobre comida gerando grande ansiedade
Dietas fazem isso, deixam você obcecado com comida. É a resposta natural do seu corpo à privação. Quando você tem um transtorno alimentar, no entanto, está tão preocupado com isso, tão obcecado, que o torna constantemente ansioso em todos os momentos do dia. No caso de transtornos restritivos, você vai se encontrar sempre pensando em como evitar comida a todo o custo e nos possíveis resultados no caso de comer algo.
4. Uso de comportamentos compensatórios antes ou após refeições
A sensação de precisar "merecer" o que se come, que leva a atividades físicas intensas e constantes antes de refeições, apenas com o intuito de queimar calorias "suficientes" para que a comida posteriormente ingerida não cause "um estrago", e a necessidade de se punir para compensar o que comeu, também com atividades físicas, com o uso de laxantes ou vômito auto-induzido, são sintomas a se observar.
5. Evitar falar sobre comida ou falar demais sobre comida
Isso é bastante confuso, admito, mas também é verdade. Enquanto você pode evitar falar sobre ou odiar falar sobre comida, porque isso o deixa ansioso e desconfortável, também pode acabar falando sobre comida o tempo todo, ou colecionando inúmeras receitas no Pinterest e Tumblr, mesmo sem perceber, porque tudo que consegue fazer é pensar em comida. Novamente, pensar sobre comida o tempo todo é também uma resposta natural do corpo em casos de privação, e uma resposta do cérebro para aqueles que estão emocionalmente ligados ao ato de comer para lidar com situações estressantes.
Mais uma vez, eu não acho que haja uma forma de fazer dietas saudáveis. Na verdade, acredito firmemente que deveria ser contra a lei incentivar dietas restritivas, devido aos danos comprovados que têm. Dietas não são saudáveis e, se você quiser perder peso, não são a resposta, porque não são sustentáveis, física ou psicologicamente. Em vez disso, a reeducação alimentar e fazer as pazes com o ato de comer, redescobrindo sua relação com a comida, são as coisas que vão ajudá-lo no processo. Privar-se de energia e nutrientes nunca é a resposta. Eu não sou nutricionista, mas é o que eu aprendi com minha agora ex-nutricionista e com as pesquisas que tenho feito desde o início do meu tratamento. Espero que isso tenha sido útil de alguma forma!
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