Onde estou agora na minha recuperação
Esta será uma atualização de como minha vida tem sido recentemente e as mudanças que têm acontecido, porque eu percebi que tenho evitado falar sobre mim aqui por medo de influenciar as pessoas a verem a minha recuperação como um modelo ou um padrão, quando, na verdade, não acho que exista um padrão de recuperação. Não há diretrizes claras sobre onde ir e tudo depende de sua vontade de aceitar o desafio e seguir o que te dizem para fazer. De certa forma, eu achava humilhante. Fazer o que outras pessoas me dizem? Como uma criança? Como alguém que não consegue pensar sozinho? Eu sempre amei a ideia de ser "eu mesma".
A verdade é que, durante os primeiros meses, mesmo antes de começar a ver o resto da equipe e só vendo a psiquiatra, mas também nos primeiros meses com a equipe, e até agora, ocasionalmente, tenho lutado com o medo de perder a minha identidade. Acho que todo mundo se recuperando de uma doença mental tem esse medo, medo de perder a si mesmo, de não mais se reconhecer. Para mim, minha identidade sempre foi moldada pela minha imagem mutante (falando de estilo, eu tentei praticamente todo tipo de moda), por meu comportamento passivo-agressivo, auto-destrutivo, e minha obsessão com a escrita. Mas também, nos últimos seis anos, e isso significa desde a minha adolescência, minha identidade era também minha figura magra, e o pensamento que tinha que ficar ainda mais magra, porque eu estava apavorada de ser odiada, e a única coisa que pareciam gostar sobre mim era minha magreza.
Mas a coisa com a recuperação é que você gradualmente começa a entender, e leva tempo, um monte de lágrimas, confusão mental, e às vezes desejo de morte, mas acontece, que sua identidade não é assim. Você começa a entender duas coisas: você é mais do que isso, e nada daquilo é verdadeiramente você. É um processo doloroso, e é um luto, porque de certa forma, você está tentando aceitar que você, como você conhece, na verdade não "existe", mas é resultado da equação da sua doença. Não saber quem você é é aterrorizante. É, sinceramente, um dos piores sentimentos que eu experimentei na vida. Mas aceitar que essa pessoa não era eu também é libertador. Me dá espaço para tentar coisas, descobrir coisas, mudar a direção da minha vida. Você nunca pensou que gostaria de começar de novo? Mudar a sua vida inteira? A recuperação te dá isso: uma chance de começar de novo.
Então, onde estou na minha recuperação agora? Eu ainda estou tendo altos e baixos. O fim de semana passado foi muito, muito difícil para mim, mas no geral, estou indo muito bem. Eu estou me desafiando a comer comidas que me assustam, e comer na frente de outras pessoas, mas ainda estou tentando entender como é possível que eu possa comer dois pedaços de bolo e ainda caber nas minhas calças. Mas o importante é que estou vendo que os pensamentos de medo são ilógicos, estou vendo que esses pensamentos não são meus, mas da doença. Estou analisando o resto da minha vida e estou vendo que há outras coisas que a doença estava controlando. Por exemplo, eu adoro moda, e VOGUE é minha revista favorita, mas eu parei de comprá-la porque eu estava com medo de ver os corpos e querer perder peso outra vez. Bem, vou escrever sobre isso mais tarde, mas a coisa é que eu comprei a VOGUE e sobrevivi!
Agora, estou em um lugar onde eu sinto que a anorexia não é mais o maior problema na minha vida. Mesmo quando conversando com minha nutricionista, parece que o que está ficando no caminho da minha alimentação correta agora não são os velhos pensamentos de medo ou relutância, mas os sintomas da minha depressão bipolar. O desânimo, o desalento, não ter a energia para sair da cama, mesmo que eu realmente queira sair da cama. Agora eu estou preocupada e ansiosa com meu novo emprego (vou estar começando na sexta-feira!), mas não estou pensando que tenho que perder peso até lá. Estou fazendo bolos ocasionalmente e comendo com minha família. Até consegui comer batatas fritas no meio do shopping com minha avó!
Sim, ainda tenho dias ruins. Eu ainda tenho dias realmente ruins. Dias em que sinto que me recuperar é uma fraqueza, dias em que sinto que é impossível entender por que Mary-Kate Olsen pode ter uma vida bem-sucedida e realizar coisas importantes sendo anoréxica e eu não posso, por que eu preciso me recuperar, por que eu preciso de um tratamento que me deixa exausta. Mas na maioria dos dias eu acordo com fome e pego algo para comer logo. Na maioria dos dias eu olho para o meu corpo e penso que não estou feliz com ele, mas pelo menos posso aceitar que ele é o que é. Eu posso olhar para a página do Facebook da VOGUE e pensar "Por que, por que, por que é que vocês são tão obcecados em dizer às pessoas que elas precisam fazer dietas?"
É uma coisa estranha, mas estou ficando mais feliz. Estou tentando estudar algo que amo (como uma autodidata novamente, porque não tenho dinheiro!) e tentando seguir em frente com a minha vida. Estou começando a acreditar que, apesar de tudo o que aconteceu comigo, eu não sou uma pessoa sem valor ou inútil. Eu tenho algo para dar, algo para mostrar, algo que poderia mudar o mundo, mesmo que de uma só pessoa. Estou chorando enquanto escrevo isso agora, porque é mesmo como me sinto e é tão diferente de como eu costumava pensar de mim mesma. Ainda estou me recuperando, ainda estou tentando, ainda estou tropeçando, mas estou muito melhor do que antes. Nunca senti algo assim antes. Toda a minha vida foi um poço de miséria e autodestruição e agora eu sinto que posso construir algo. A recuperação é difícil e assustadora, mas estou aprendendo que vale a pena cada lágrima.
A propósito, o blog está em breve chegará a 4.000 leituras. Eu nunca sei como mostrar, compartilhar este blog, como torná-lo mais visível, mas agradeço aos meus amigos por lerem o que escrevo e retweetarem meus tweets, e minha nutricionista por ser tão entusiasmada e compartilhar a página em seu Facebook. Escrever é a única coisa que faço com facilidade, com certeza de que não estou fazendo nada errado. Me ajuda a relaxar e acalmar pensamentos frenéticos. Quem me conhece sabe o quanto valorizo a minha escrita, o quanto me importa. Então, obrigada por ler!
P.S.: Estou considerando fazer uma página no Facebook para aumentar o alcanço do blog. Sigo com a ideia ou não?
P.S.: Estou considerando fazer uma página no Facebook para aumentar o alcanço do blog. Sigo com a ideia ou não?
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