Minha experiência com o Centro de Valorização da Vida (Aviso de Gatilho)
Então, você provavelmente notou que eu não tenho estado muito bem desde há uma semana. Não é uma coisa da anorexia, é o transtorno bipolar. Longa história feita curta, cheguei à conclusão, junto com amigos e minha terapeuta, de que talvez (apenas "talvez") a maioria das minhas lembranças mais significativas, que moldaram todo o meu senso de identidade, embora frágil, vêm da mania ou de episódios de psicose.
Algumas pessoas tentaram falar comigo e me lembrar que, mesmo que as coisas fossem "mentiras", eu ainda as experimentava inteiramente, e sentia sentimentos por causa delas, na minha cabeça, e elas me afetavam tanto como se fossem "reais", então são reais para mim. Porém, ainda fui acionada a uma tremenda crise existencial e tudo que eu posso pensar é que sou uma mentirosa e que menti tanto que não sei quem realmente sou. Dói, porque eu não quero ser uma mentirosa, e não consigo aceitar que fazer ou pensar coisas por causa de psicose não é exatamente "mentir".
Enfim, eu tenho pensado muito sobre suicídio. Eu pesquisei a quantidade de pílulas necessárias para morrer, e percebi que não tenho nem perto do suficiente, o que só me deixou ainda mais desesperada. Os pensamentos não pararam, mas cresceram e ficaram mais fortes. Tenho me machucado mais e realmente preocupado meus amigos. Na noite de quinta-feira, cheguei a um ponto muito baixo e, ao mesmo tempo, percebi que meus amigos não podiam fazer ou dizer nada para me ajudar. Mas, talvez porque sou covarde, ou talvez porque realmente não queria morrer, apenas entorpecer a confusão mental, decidi recorrer ao Centro de Valorização da Vida.
Eu entrei em contato através do chat online, porque tenho extrema dificuldade em lidar com ligações telefônicas. Acontece que a experiência foi... absurda. Primeiramente, esperei duas horas para falar com alguém. Entendo que a demanda deve ser imensa, mas duas horas é tempo demais e, se eu estivesse pior e não estivesse realmente tentando ir contra meus impulsos, poderia muito bem ter ido para um hospital no meio tempo.
Em segundo lugar, quando finalmente consegui falar com alguém, uma mulher que vou chamar de M, disse: "Estou pensando em me matar". A resposta, a primeira resposta que recebi na conversa, me deixou perplexa. Ela disse: "E esses pensamentos incomodam você?" Quer dizer? Perdoe o sarcasmo, mas meu pensamento imediato foi: "Não, claro que não, eu amo ser suicida, é divertido". Acho que deveria ser algum tipo de técnica dialética, mas... isso realmente não é o que esperava e não teve nenhum efeito positivo em mim, exceto por ter me feito gargalhar em desespero.
Em seguida, eu expliquei o que se passou, como minha vida está no momento, mencionei meus diagnósticos, expliquei exatamente o que estava planejando fazer. A resposta foi "Você está cansada de lidar com esses problemas..." Nada mais. Quero dizer, eu não sei exatamente o que era para ser, mas não foi bom. Eu estava esperando que discutiria comigo, me ajudaria a ver que morrer não era a única opção. Eu até disse que tenho terapia todas as terças-feiras e ela nem mencionou que eu poderia (ou deveria) tentar contactar minha terapeuta ou apenas fazer o meu melhor para esperar até a próxima semana. Sua resposta foi apenas isso. A coisa mais óbvia e vazia.
Quando eu disse que voltei a me ferir muito nos últimos dias, a resposta foi: "Você se feriu para aliviar..." Ela estava basicamente fazendo perguntas retóricas, ou repetindo o que eu dizia, ou afirmando a coisa óbvia mais idiota. Talvez eu seja muito cínica para esse tipo de coisa, mas não era nada do que esperava. Não parecia sincero. Não parecia haver qualquer tipo de envolvimento ou de atenção. Não parecia qualquer tipo de ajuda. Era pior do que falar sozinha. Sei que são voluntários, mas também sei que recebem treinamento para fazer o trabalho. E, de verdade, fiquei muito decepcionada.
Eu desisti de tentar suicídio, mas a única coisa que essa conversa fez foi me fazer rir. Eu ri, e ri alto, porque foi absolutamente absurdo. A única razão pela qual desisti foi porque eu sabia que não tinha a quantidade de pílulas necessárias para morrer e temia acabar ficando viva e com sequelas, depois que uma amiga mencionou o que aconteceu a ela depois de tentar uma overdose, o que faria minha vida ainda pior do que está agora.
Eu honestamente não queria escrever esta postagem. Eu estava relutante sobre isso, e precisei de uma longa conversa com uma amiga para decidir escrever isso. Eu não quero que pareça que o CVV não ajuda ou que é inútil pedir ajuda, porque não é inútil, faz toda a diferença, porque, primeiro, você está reconhecendo o fato de que morrer não é a única opção. Mas esta foi a minha experiência com o CVV e eu realmente gostaria que tivesse sido diferente. Eu não quero que ninguém passe por esse tipo de conversa vazia e sem sentido, porque parecia que eu não estava sendo levada a sério. Foi como se M estivesse entediada, sem prestar atenção, muito distraída para se importar e conversar.
Ironicamente, sei que, se não estivesse medicada, aquela conversa teria me feito sentir como um completo pedaço de merda não merecedor de nada de bom, e que eu teria tentado me matar de outra maneira. Eu realmente espero que tenha sido uma situação isolada, espero que não aconteça muitas vezes, espero que as pessoas recebam ajuda de verdade quando entram em contato com o CVV. Mas se não é, se é recorrente, se é desta maneira que é feito, não está sendo um bom serviço. Mesmo. E espero que mude.
A propósito, se você estiver lutando com pensamentos suicidas e sentir que não tem ninguém para conversar, pode me enviar um e-mail em deborasteele821@gmail.com ou falar comigo no Tumblr (snowplumthewitch) e no Twitter (@witchyvenus). Estou sempre online e sempre disposta a ajudar. Sua vida é importante para mim. 💕
a cvv é inutil sim. eles fazem isso com todo mundo, sao diversas as pessoas que reclamam. eles so repetem o que voce diz, e parecem incomodados se voce conversar por mais de 30 minutos. não ligue, não recorra a eles. é muito inutil, e espero que as pessoas suicidas não achem que eles sao a ultima opçao, pq ai elas vao ver que realmente, tudo é horrivel. ate o que deveria ser bom e te ajudar.
ResponderExcluirAcabei de ligar pela primeira vez: foi horrível! A pessoa até tentou, mas foi péssimo. O único benefício foi me fazer chorar tanto que, aparentemente , eu sequei.
ResponderExcluirOi, July. Peço mil desculpas pelo tempo que demorei para responder, mesmo tendo visto seu comentário há meses... Meu nível de energia não é muito bom e eu acabo negligenciando o blog.
ExcluirSinto muito que você tenha tido uma experiência tão ruim. Está tudo bem agora? Como você tem estado?
Olá, o trabalho dos voluntários do CVV é o acolhimento incondicional, isto é, não importe o que a pessoa que ligue fale e/ou aborde algum tema, ela não será julgada por aquilo.
ResponderExcluirPode parecer repetir a fala, ou fazer perguntas óbvias, mas já ouviu falar em empatia? Se colocar no lugar de quem liga e vivenciar naquele momento o que se passa. Acredita que ficaria melhor se alguém te aconselhasse? Ou que caminhe do seu lado?
A fila é imensa, uns ligam para xingar, para ficar com papos sexuais, outros para chorar na linha tendo alguém para ouvir, como outros que ligam pois não têm ninguém com quem contar e também quem chegou ao limite de si que pensa em tirar a própria vida.
Eu não preciso "me colocar no lugar de quem liga". Eu SOU quem liga. Eu não escrevi essa postagem com o intuito de dizer que é completamente inútil para todo mundo. Está especificado, de forma bem clara, desde o primeiro momento, que é a MINHA experiência em um momento em que eu precisei do apoio. Escrevi essa postagem em março de 2017. Se você olhar o meu blog, no mês seguinte eu estava internada por ideação suicida. Como eu disse, eu SOU quem liga para a CVV.
ExcluirNão "parece" repetir fala ou fazer perguntas óbvias. Foi exatamente isso o que aconteceu comigo. E meu blog é feito assim: eu compartilho o que eu vivo.
Eu entrei na fila do chat 2 vezes e em ambas vezes tive q esperar mais de 2 horas. As pessoas n parecem se importar mt com quem tá la, na primeira vez inclusive a mulher falou varias vezes q me recomendava ir conversar com outro voluntario(já tava qse no fim do horário do chat e essa mulher falou isso). Se n for pra instruir as pessoas voluntarias, de q adianta as colocar como ajuda de pessoas q estão prestes a cometer suicídio/se machucarem? Pq eu n vi ngm q pareceu instruído pra nenhuma situação desse tipo, só pareceu ser pessoas q se voluntariaram e pronto.
ExcluirSinto muito que tenha passado por isso, Juliana. Infelizmente, eu concordo com você.
ExcluirComeçarei o curso de voluntário no CVV em breve. A abordagem utilizada na instituição é a ACP (Abordagem Centrada na Pessoa). Essa abordagem, criada por Carl Rogers preconiza: a) Aceitação Incondicional; b)Empatia; e c)Congruência. Pelo seu relato, a atendente buscou fazer exatamente isso não te julgando (e validando as suas dores sem te julgar por senti-las). Como o "P" da ACP é de "Pessoa" e não de "Problema", houve uma tentativa de condução do diálogo, levando em consideração suas dores mas, direcionando o foco para o que você sentia em relação aos problemas e não, diretamente para eles. O porquê disso? Porque a abordagem acredita no "pressuposto da atualização" que acredita que, o "cliente" tem a capacidade de se auto-organizar, nas condições corretas. Lamento a quantidade de horas de espera (gostaria que mais pessoas se dispusessem a estudar por 6 sábados e dedicar seu tempo à ajudar ao próximo sem nenhum tipo de retribuição além, da satisfação anônima de contribuir com outro anônimo). Sobre o não entendimento da técnica utilizada, não vejo como explicar ao "cliente", toda a teoria e o porquê dela, num momento tão delicado e fragilizado. E, o mais importante: Dado que você, e outras pessoas que passaram e gostaram (ou não da abordagem) não tiveram como experienciar uma alternativa, não há como afirmar que a ligação foi ou não útil. Sou Terapeuta Holístico em tempo parcial (Trabalho com Hipnoterapia, PNL) e, antes disso, suicida em potencial. Como disse, iniciarei meu treinamento em breve, por isso, me sinto à vontade por enquanto, para postar essas opiniões de um leigo. Caso eu veja algo diferente disso ou, mude de ideia sobre minhas opiniões, me comprometo à voltar aqui e me reposicionar. De qualquer forma e antes de tudo, torço para que você consiga alterar sua percepção da realidade, para uma que lhe seja mais útil e saudável de acordo com seus sonhos, valores e objetivos.
ResponderExcluirCvv não me acolheu, até debocharam da minha condição psicológica das vezes que entrei em contato,são uns mongolóides que se acham superiores.
ResponderExcluirJá precisei desse tipo de apoio e o sentimento que restou foi o de humilhação. O ser humano, egoista por natureza;um animal que luta incansavelmente pelas suas futilidades sem ligar pra ninguém, onde a si mesmo importa.
Cvv nos encontramos no inferno.
O melhor a se fazer é buscar ajuda médica e psicologica, não se submetam a esse tipo de descaso...voluntários são uns verdadeiros analfabetos emocionais. Se a proposta do CVV é apoio emocional na teoria é uma coisa na prática não presta pra nada.
ResponderExcluirAss:Renata Silva -PE
Tive uma experiência horrível com o CVV já há muitos anos e não esqueço até hoje. A mulher praticamente gritou comigo no telefone e quase disse que a culpa de me sentir mal era minha, ela disse algo como "e você não vai fazer nada a respeito?! Não vai se mexer?!" Foi péssimo! E o pior foi que esperei um tempo e liguei para lá de novo, esperando ser atendida por outra pessoa melhor e a mesma mulher me atendeu. Eu fingi que era engano por estar envergonhada com a maneira rude que ela começou a falar quando percebeu que era a mesma pessoa com quem havia conversado. Ela me tratou muito mal, como se estivesse entediada. Já era uma senhora pela voz. Se eu estivesse realmente convicta a fazer algo contra mim mesma naquele dia, isso só teria piorado tudo.
ResponderExcluirEu acabei de ligar no CVV, e foi péssimo, esperei 20 minutos pra ser atendida, nesse tempo eu poderia ter desistido e feito oq eu estava desesperada em fazer, que é o suicídio. Qdo a mulher me atendeu, eu mal ouvia sua voz e qdo ouvia, eram poucas palavras e nada confortantes. Tudo q fiz foi chorar e esperar uma palavra de consolo que não veio. No fim, percebi q ela estava entediada e disse pra ela ficar a vontade pra desligar, e ela disse "ok, boa noite".
ResponderExcluirDesliguei e chorei mais ainda, me senti uma idiota procurando ajuda.
Eu também liguei e só ouvi coisas repetitivas ,eu tive que dar um puxão de orelha na voluntária e eu acabei dando uma ajuda a ela por incrível que pareça ,eles n sabem da dor humana sugestionar a ir na academia etc são mal informados
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