Como problemas de criatividade alimentaram minha anorexia
Eu estava planejando e começando a escrever um artigo chamado Criatividade e transtornos alimentares: o papel das artes na recuperação. Provavelmente, o artigo sairá em algum momento, mas preferi adiá-lo e tratar de algo que caiu na minha frente durante as pesquisas para escrevê-lo. Ao pesquisar sobre o efeito positivo do uso de atividades criativas durante a recuperação de um transtorno alimentar, esbarrei com um artigo chamado Creativity and Eating Problems. Pensando que encontraria algo completamente diferente, abri-o, mas fui atingida pelo que li.
Em suma, no artigo, Karen Koenig diz que muitos de seus pacientes que se queixam de "falta de criatividade", se não estão sendo permanentemente produtivos o tempo todo, têm uma sensação de culpa. Como uma pessoa das artes eu mesma, as palavras me atingiram quando as li, porque me queixar da "falta da creatividade" é algo que faço demasiado frequentemente - e eu estou dolorosamente familiarizada com a culpa que se experimenta quando sou forçada a parar de produzir, seja por precisar voltar ao "mundo real" ou porque meu corpo e minha mente simplesmente não aguentam mais. Estive sofrendo para trabalhar colocar para fora uma única palavra para meu livro desde domingo e isso está me deixando louca. Me sinto culpada, me sinto envergonhada. Sinto que sou um fracasso.
O que Koenig sugere é que a dificuldade de compreender os momentos ociosidade ou inatividade como algo positivo e, ainda, essencial para a manutenção da criatividade acaba levando a intensas sensações de ansiedade. Ela sugere que muitas pessoas recorrem a comer, e acabam comendo demais, em uma tentativa de acalmar a ansiedade causada pela falta de atividade criativa. No entanto, apesar de não sofrer de compulsão alimentar e estar ciente de que não recorro à comida para acalmar minha ansiedade, eu consegui me relacionar com o texto imediatamente, porque há também uma conexão entre a minha anorexia e minha criatividade, e eu não havia percebido isso até hoje.
Silenciosamente, a restrição da anorexia nervosa pode ter muitas naturezas e sentimentos associados. É uma sensação de controle, mas também de medo e punição por não ser o que você supõe que deveria ser, e é, também, causada pela sensação da necessidade de precisar mostrar força de vontade. Acalma a culpa porque parece uma punição, e acalma a ansiedade porque parece que se toma o controle da situação, da sua vida. Imediatamente, ao ler o artigo, olhei para a minha própria vida e reconheci: muitos dos meus hábitos restritivos há muito tempo e mesmo agora, quando parecem estar prestes a acontecer de novo, têm forte relação com os sentimentos de culpa, vergonha, fracasso e inadequação que experimento quando não consigo produzir nada. Eu corto minha comida como uma maneira de me castigar por ser um fracasso, mas também para me lembrar que posso fazer o que quiser, contanto que me esforce.
Não queria escrever sobre isso porque realmente não é uma coisa positiva. Na verdade, estou percebendo agora como algo que é inato para mim, algo que rege toda a minha vida desde que eu me lembro, que é minha criatividade, tem uma conexão com algo que quase me matou e que ameaça me matar todos os dias. É uma coisa dolorosa de se perceber, mas também é libertador, porque agora, eu estou em um momento da recuperação em que meu cérebro já consegue refletir de maneira lógica, o que eu não conseguia antes. E, assim, agora eu consigo olhar para trás e ver que, na verdade, o que parecia estar me ajudando estava limitando e gradualmente destruindo algo que é de fato a única coisa de que eu tenho orgulho sobre mim. Tudo porque eu não podia aceitar que relaxar é parte de ser produtivo.
Verdade seja dita, eu ainda não posso aceitar isso e nunca tinha pensado sobre isso antes de ler o artigo. Na verdade, eu estava ciente de como me sinto angustiada quando não consigo trabalhar: fico irritada, triste e não consigo parar de pensar que deveria estar fazendo o trabalho! É um pensamento constante, que não para de forma alguma. E eu percebi que esta semana, depois de duas semanas com uma produtividade maravilhosa e de, desde domingo, estar diante de uma exaustão cerebral e da incapacidade de produzir qualquer coisa, eu voltei a reagir de formas extremas às situações ao meu redor e voltei a considerar e planejar episódios restritivos. Agora sei o porquê: isso me acalma. Faz-me sentir que pelo menos estou trabalhando para algo, controlando algo. Controlando minha vida quando me sinto fora de controle.
Como quebrar a maldição? Como "superar isso"? Acredito que a primeira coisa que já fiz: ter o meu corpo devidamente nutrido. Agora estou em um peso saudável e comendo refeições equilibradas. Como tenho nutrientes suficientes, meu cérebro pode funcionar corretamente, o que significa que posso pensar corretamente e considerar as coisas de maneira lógica. E outra coisa é o que estou a fazer agora: ponderar. Contemplar coisas. Refletir. Compreender de onde as coisas vêm e por que têm tão grande impacto na sua vida é como se começa a saber que ferramentas se precisa para substituí-las de forma saudável. Neste momento, estou ciente de que preciso simplesmente viver minha vida: lavar a roupa, tomar um banho, sair com meu gato, ler um livro, conversar com meus amigos e relaxar. É parte de cultivar uma ideia. É parte de deixá-la crescer. Ter uma rotina saudável em que eu permita que a vida aconteça é essencial para a produtividade.
"Para alguns de vocês, abandonar o 'ocupado é igual a bom' pode ser um dos esforços mais duros que jamais empreenderão. Mas acreditar no valor de simplesmente ser o levará a ter seus fluidos criativos correndo."
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