Coisas que tenho aprendido com a recuperação e o tratamento


Eu comecei meu tratamento psiquiátrico em maio e o tratamento com o resto da equipe em outubro. Não é muito tempo se eu pensar sobre isso de uma perspectiva externa, mas muito mudou, tantos passos foram tomados, tantas coisas diferentes eu aprendi até agora, que é quase como se fosse uma vida inteira de distância. Eu quero compartilhar algumas coisas que eu aprendi com minha equipe e com minhas próprias meditações através do processo.

Primeiro, iniciar o tratamento não é igual a abrir mão do controle da sua própria vida. Eu estava aterrorizada, com medo de perder o controle sobre a minha vida, de ser dita o que fazer, ter que seguir as regras de outra pessoa. Apesar de todas as minhas limitações, sempre gostei de pensar que eu era independente e fazia as coisas da maneira que eu gostava. No entanto, com o tratamento e todo o processo de recuperação, acabei compreendendo que a ideia anterior de independência que eu tinha era uma falsa realidade. Eu não era independente – e parte de mim sabia disso. Eu era de fato tão dependente que estava tentando fazer as pessoas perceberem que eu precisava de ajuda. Sim, eu tinha minhas próprias regras, eu tinha meu próprio "modo de viver", mas era totalmente focado em como as outras pessoas me tratavam, o que pensavam sobre mim, e o que pensavam que eu merecia ou não.

Com o tratamento, tive que aprender a confiar em outras pessoas, apesar das feridas antigas, apesar do pensamento de que, sempre que confiar em alguém, essa pessoa me decepcionará e me deixará sozinha. Não é algo que se aprenda da noite para o dia: é realmente um processo demorado e eu ainda estou aprendendo. Várias vezes, eu comecei uma recaída ou tive ideias para desencadear a minha própria recaída porque eu achava que a única maneira de continuar recebendo ajuda, continuar recebendo atenção, continuar recebendo os cuidados adequados de que eu precisava por tanto tempo, era se eu continuasse doente. Foi extremamente difícil para mim entender que a equipe não vai me abandonar e mesmo agora eu ainda preciso dizer a mim mesma que está tudo bem, que vão cuidar de mim durante o tempo que eu precisar. Minha terapeuta ainda tem que dizer "Sabemos que você precisa de ajuda". Quando penso que estou me recuperando muito rápido, ou que já estou melhor, ela me lembra que ainda preciso de ajuda. Com o tempo, aprendi a confiar nela, a vê-la como alguém que realmente se importa, por qualquer motivo que seja.

Falando nisso, a equipe não está tratando você por causa do dinheiro. Eu costumava pensar que psicólogos só me dariam atenção porque gostavam do dinheiro. Tal pensamento foi passado para mim por minha família e experiências anteriores que eu tive com maus profissionais. No entanto, quando encontrar bons, pessoas que realmente amam o que fazem, não é sobre o dinheiro. Eles realmente se preocupam com você e querem que você melhore. Podem parecer ásperos e exigentes às vezes, mas estão preocupados. Eles sabem que você está sofrendo, eles sabem que sua doença está corroendo você, e ninguém quer ver você morrer. As pessoas querem que você viva. Não é algo que acontece em todos os lugares, mas fiquei surpresa ao descobrir que toda a minha equipe está, na verdade, se voluntariando. No entanto, também estou aprendendo que, às vezes, vão cometer erros. Houve momentos em que pensei que a maneira como certas coisas foram ditas para mim não me ajudou, mas, às vezes, eles simplesmente não sabem. A única maneira de saber e julgar como é melhor tratá-lo, é se você for aberto e honesto sobre o que está passando.

Mentir sobre o que e quanto está comendo não vai levá-lo a lugar algum. Eles têm as ferramentas para saber que você está mentindo. Seja honesto se comer mais do que acha que deveria, ou menos do que dizem que você deve. Basta ser honesto e deixar que ajudem você, deixar que guiem você. Eu costumava estar preocupada, porque achava que estava sendo honesta demais, e sentia como se estivesse traindo a doença, dando todas as informações tão facilmente, mas faça isso! Você não está traindo ninguém. Seu transtorno alimentar é uma doença, não uma pessoa: ele não tem sentimentos. Especialmente na internet, temos o hábito de dar-lhe uma personalidade, uma autenticidade, uma independência que na verdade não tem. Eu sei que parece que ele pode gritar com você e chamá-lo de coisas ruins, mas sua doença não tem voz. Não é um ser. Mas você é. VOCÊ tem uma voz. VOCÊ pode ser ouvido.

Uma das partes mais difíceis sobre recuperação, no entanto, é aprender que não é uma decisão única. Não é algo que você decide uma vez. Você tem que continuar escolhendo a recuperação todos os dias, várias vezes por dia, em cada refeição, em cada mordida, a cada vez que você decide ficar longe da balança ou do espelho, a cada vez que se abstém de dizer más palavras sobre você mesmo. A recuperação não acontecerá milagrosamente, magicamente. Você é o único que tem o poder de fazer isso acontecer. Forçar alguém a se recuperar não vai funcionar: tem que haver compromisso pessoal, energia pessoal envolvida, porque essa é a única maneira de curar a mente. Eu escolhi a recuperação porque estava exausta. Não conseguia dormir porque estava com medo de que meu coração parasse. Eu estava destruindo minhas poucas amizades porque não comer me deixava completamente surtada. Eu estava cansada dos jogos, cansada de desperdiçar meu tempo com exercícios que eu odiava, cansada de contar calorias, de chorar sozinha no banheiro.

E, mais importante, aprendi a confiar no processo. É algo que digo a mim mesma: confie no processo. A recuperação dói, não é fácil, não acontece da noite para o dia. Leva tempo, lágrimas, confusão e impulsos que você acha que não pode controlar. Mas você pode. E se você não conseguir hoje, amanhã tentará outra vez, porque a recuperação não é sobre fazer tudo certo o tempo todo. Os erros são parte do processo, e temos de confiar que fazem parte do que estamos construindo. As coisas se tornam mais fáceis com o tempo e prática, tempo e prática. Eventualmente, você vai chegar lá.

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