Qual é a ligação entre transtornos bipolares e transtornos alimentares?
Meu primeiro diagnóstico de doença mental foi anorexia nervosa, mas, logo em seguida, também fui diagnosticada com transtorno bipolar. Desde então, comecei a me perguntar se havia uma conexão entre os dois. E, na verdade, há, não com anorexia em si, mas com transtornos alimentares.
Transtornos alimentares consistem em vários padrões complexos de relação doentia com a comida, o ato de comer e a imagem corporal. Em geral, consistem em ciclos repetidos de comportamentos. Transtornos alimentares podem acontecer a qualquer pessoa de qualquer sexo, idade, peso e classe econômica. Como toda doença mental, não discriminam. Pesquisas apontam que as causas provavelmente são combinação de fatores biológicos, psicológicos e relativos ao meio. As formas mais comuns de distúrbios alimentares são, mas não se limitam a, anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar.
Transtornos bipolares são um conjunto de distúrbios do humor que consistem de períodos de humor e atividade anormalmente elevados, conhecidos como mania, e períodos de baixos severos, conhecidos como depressão. Ambos os extremos representam significativo comprometimento do que conhecemos como funcionamento normal. Ao contrário do que muitos acreditam, transtornos bipolares, também conhecidos como transtorno maníaco-depressivo, não são um, mas um conjunto. Os subtipos incluem transtorno ciclotímico, bipolar II, bipolar I e transtorno bipolar não especificado.
Ao pesquisar sobre ambos, percebemos algumas características comuns entre transtornos alimentares e transtornos bipolares. Embora pesquisas ainda não sejam conclusivas, estima-se que entre 5 e 14% dos pacientes bipolares têm um distúrbio alimentar. Ambas as doenças funcionam em ciclos e se alimentam mutuamente: os altos e baixos extremos do transtorno bipolar podem influenciar o ciclo de compulsão alimentar, compensação e restrição na bulimia nervosa, por exemplo.
Enquanto a anorexia parece ser o distúrbio alimentar menos comum a ser comórbido com transtornos bipolares, a compulsão alimentar é apontada como o mais comum, especialmente para indivíduos que experimentam episódios depressivos maiores, o que pode levar à obesidade, com significante risco a pacientes que fazem uso de substâncias como lítio ou ácido valproico para manutenção do transtorno bipolar. Além disso, durante os episódios maníacos, pacientes costumam comer menos, o que poderia piorar e até mesmo mascarar os sintomas de anorexia nervosa como sendo apenas mais uma parte do transtorno bipolar, dificultando a identificação e o diagnóstico em estágios prematuros da doença.
"Ter um transtorno alimentar comórbido ao longo da vida foi associado com ser mulher e uma série de outras características, incluindo: idade mais jovem, idade mais precoce de sintomas de humor e de transtorno bipolar, história de ciclos rápidos e tentativas de suicídio, maior IMC, obesidade e obesidade grave, histórico familiar incluindo depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso de drogas. AN de longa duração foi associada ao peso normal e ao transtorno de ansiedade ao longo da vida, BN foi associada ao sobrepeso e TCA associou-se à obesidade e à obesidade severa." (fonte)
Embora ainda haja lacunas para preencher neste campo, já é claro que pacientes com transtornos bipolares são mais propensos do que o público comum a ter um transtorno alimentar. Esta é uma causa de preocupação, pois este tipo de comorbidade torna mais difícil tratar tanto o transtorno bipolar quanto o transtorno alimentar. Isso ocorre porque, devido ao aumento do apetite, o uso de certos antidepressivos e antipsicóticos pode levar a maior ganho de peso em pacientes já obesos e pacientes com transtorno de compulsão alimentar e bulimia nervosa, e piorar a compulsão para induzir o vômito, praticar exercícios e empenhar restrição tanto na bulimia nervosa quanto na anorexia nervosa, devido ao medo de ganhar mais peso. Além disso, certos antidepressivos, como a fluoxetina, que reduzem o apetite, podem ajudar na bulimia e no transtorno de compulsão alimentar, mas piorariam o quadro da anorexia nervosa.
Isso pode levar a um impasse, uma vez que encontrar a medicação para alcançar e manter a estabilidade no transtorno bipolar pode se tornar ainda mais difícil. As doenças alimentarão uma à outra mutuamente, uma vez que qualquer anormalidade nos hábitos alimentares pode levar a complicações no transtorno bipolar, e mudanças de humor, especialmente quando extremas, podem desencadear comportamentos e pensamentos de transtornos alimentares. Como pouco se sabe sobre como tratar eficazmente ambos os transtornos quando co-ocorrem, o tratamento é comumente feito em uma sequência de tentativa e erro, mas a importância do tratamento do transtorno alimentar, a fim de alcançar a estabilidade no transtorno bipolar é conhecida. Assim, uma equipe multidisciplinar é necessária, em vez de um psiquiatra por si só.
Referências:
2. Eating Disorders and Bipolar Disorder (em inglês)
3. Bipolar Illness and Eating Disorders (em inglês)
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